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domingo, 8 de setembro de 2013

Cor do fogo


Da minha janela vejo o Caramulo ao longe.
Hoje, o pôr do sol na serra parece um manto  cor de laranja, a tocar o céu azul na linha do horizonte.
A cor que tanto nos encanta traz-me à  memória os violentos incêndios deste verão que cobriram a serra de negro, tão negro como a noite escura.
Durante semanas consecutivas, vi com os meus próprios olhos, as chamas vivas ao longe, numa cadência vertiginosa, queimando tudo o que lhe surgia pela frente e matando jovens bombeiros (pelo menos dois) em condições trágicas.
Uma desgraça se abateu sobre a serra, agora transformada num carvão contínuo! Durante décadas foi procurada pela pureza dos seus ares para tratamento de doenças pulmonares [ficaram na história os sanatórios ali implantados no século passado] e, agora, paradoxalmente, viu-se transformada  num campo de concentração de fumo, cinzas e ambiente irrespirável.

Passam os minutos… chega o crepúsculo... eis senão quando, lá ao longe, surgem várias manchas vermelhas que parecem… chamas. Olho insistentemente com mais atenção e… afinal são as luzes que identificam as torres de energia eólica, dispersas no cimo da montanha. Graças a Deus! Que susto!
Mas, fico intranquilo. Mesmo sabendo que os dias arrefeceram e as condições atmosféricas são menos propícias ao deflagrar de incêndios, mesmo assim, nunca se sabe … depois de tamanha desgraça, ficamos desconfiados… o diabo pode tecê-las!

E num ápice começo a pensar que o flagelo dos incêndios nunca mais nos larga. Preocupo-me: os fogos é uma matéria que muito me sensibiliza [vivi a infância na aldeia, em que o sino da capela tocava a rebate, sempre que havia um fogo, que de pronto era atacado por todos os habitantes: muitas vezes acontecia que quando chegavam os bombeiros já o incêndio estava extinto!].
Fico muito triste porque vejo que o país investe cada vez mais dinheiro contra a praga dos incêndios, mas em vão. Este ano o orçamento previsto andava à volta dos 47 milhões que, nesta fase da campanha, já foram ultrapassados [e ainda não acabou a época crítica!]. Sinto que a cor do fogo é cada vez mais a cor do dinheiro! Alguém deve lucrar muito com esta situação de crise permanente... acho que é falta de categoria (só se lembram da prevenção quando o fogo, em pleno verão, alastra pelo país, fazendo as suas vítimas). Onde está a verdadeira prevenção?
Não me digam que será necessário o regresso ao tempo dos sinos a rebate, chamando a população para ajudar ao combate, desinteressadamente!
Enfim!
Coitadas das gentes das pequenas aldeias, pobres e humildes que, apesar das más condições de vida, teimam em ficar … e logo elas que nenhuma culpa têm pelo estado a que chegaram os campos e as matas, cada vez mais vulneráveis face ao perigo de destruição pelas chamas!