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quarta-feira, 5 de julho de 2017

o arquitecto de família

*O sol bate envergonhado na estreita fila de casas escondidas para lá da fachada do número 1 da Rua de São Víctor.
Sentada num banco à porta de uma das habitações da ilha, sorriso posto, Fátima Castro vai apresentando o espaço que conhece desde menina. Fez-se gente ali, lugar de amizades enraizadas, de "condomínios sem condomínios", e quando o pai morreu, há mais de 30 anos, tornou-se proprietária. Sem recursos, foi vendo as casas a degradarem-se. Os moradores a saírem. Agora, só três dos oito espaços preservam vida lá dentro. Fátima viveu anos entre a tristeza de ver o seu legado danificar-se e a convicção  de não o vender.
"Isso nunca, um dia há-de ser dia"
E foi mesmo.
A resposta encontrou-anum panfleto afixado na Junta de freguesia do Bonfim, onde vive.
Chamava-se Habitar e prometia apoiar proprietários, inquilinos e profissionais a facilitar processos de recuperação, conseguindo habitação a preços justos.
E cumpriu.
A pré-candidatura ao Reabilitar para arrendar, do Instituto para Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) já foi aprovada. 2018  deverá ser o ano de ilha renovada.
Aitor Varea Oro, arquitecto espanhol, transportou o sonho do direito à habitação de Valência para o Porto. Assinou uma parceria com a Junta de Freguesia de Bonfim para se tornar o «arquitecto de família» daquela população e, um ano depois do arranque do projecto, perdeu a conta aos atendimentos.
Está a dar resposta a nove casos.
Em Março alargou a zona de intervenção à Junta de Campanhã.
E do projecto pessoal nascido da sua tese de doutoramento burilou um desígnio plural com a educadora social Liliana Pacheco que assume, ao lado dele, o papel de coordenadora.
E uma rede de gente disposta a fazer do Habitar Porto "um projecto de vida".

Para ele, "a arquitectura é uma acção colectiva"  e a habitação não é uma questão exclusivamente técnica. Longe disso.
(...) vão descendo São Victor, a rua com mais ilhas do Porto, a caminho da propriedade de Fátima Castro.
São alguns dos voluntários do  Habitar, rostos das "brigadas mistas" que no último meio ano têm percorrido o Porto a sentir-lhe o pulso, a identificar problemas e procurar soluções..
A inspiração surgiu do Processo SAAL, o projecto arquitectónico e político criado poucos meses de pois do 25 de Abril, sobre o qual o arquitecto espanhol se debruçou no seu doutoramento.
"É possível recuperar um edifício na sua totalidade, mas não se pode compor uma telha porque os programas não têm esses parâmetros" -
- exemplifica, a também arquitecta Mónica Loureiro.
 
Um problema da cidade
No Bonfim ... são 2.000 casas devolutas.
Fátima Castro guarda religiosamente o caderno preto onde escreveu à mão um longo texto explicativo. Registou o que pensa a sonhar com uma ida à televisão ... falar de uma vida...portuense numa cidade em mudança.
Soluções?
"Uma intervenção na base educativa"

* «E se o Porto inventasse um Obamacare em versão Habitar?» por Mariana Correia Pinto.
 artigo publicado no jornal Público, 20 de abril de 2017, que fala de arquitectos e educadores sociais com afinidades pragmáticas, operacionais e ideológicas

4 comentários:

  1. Não entendi direito. Bom Fim é um bairro da Cidade do Porto? Meus ancestrais são do Porto que para mim é uma cidade belíssima e aconchegante. Sei que o importante é preservar - principalmente a arquitetura antiga. Belo espaço. Parabéns! Grande abraço. Laerte.

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    Respostas
    1. Bom Fim é o nome duma freguesia (autarquia local), parte integrante da cidade do Porto.
      Porto não é a cidade onde resido. Visito-a com alguma frequência.
      Esta mensagem é uma homenagem à velha cidade e a quem a defende.
      Muito grato pelas suas simpáticas palavras.
      Grande abraço

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  2. Numa época de pleno distúrbio comunicacional, ler notícias destas sabe melhor que água fresca no Verão. Ainda há pessoas que se preocupam, só pode.

    Abraço

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  3. Existem projectos de vida que numa época como esta, são oásis num deserto de loucos.
    " Isso nunca, um dia há- de ser dia!

    Fico feliz por saber que nem tudo está perdido!

    Um beijo, Petrus!

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