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sábado, 16 de julho de 2016

2035

Hoje poderia falar de vários assuntos que me vão na mente, como por exemplo a vitória de Portugal contra a Polónia que nos atira para meia final do Euro 2016 ou o início dos Jardins Efémeros que vão até ao próximo dia 10, mas não, o que quero narrar:
Há dias assisti, no Viriato,  ao espectáculo "2035", concepção e direcção de Jorge Fraga.
"(...) construído a partir de um Processo de criação, tendo como referências as leituras de O Albergue Nocturno e Dos Últimos Dias da Humanidade e uma pesquisa sobre o ser e o sentir , a cidadania em situações de emergência, necessidade, revolta, sonho... - cito a introdução na folha de sala.

Vinte e sete actores subiram ao palco: todos, sem excepção, tiveram um excelente desempenho, dando corpo à ideia confessada de considerar o palco como corolário da nossa própria existência.

Poderia narrar as inúmeras histórias (o espectáculo dura cerca de duas horas), todas elas muito peculiares, mas, em vez disso, opto apenas por algumas impressões:
1. um espectáculo aberto à comunidade, bem idealizado e executado por artistas amadores: deveu-se ao Mestre Fraga que teve o mérito de transformar cidadãos comuns em verdadeiros artistas; personagens do quotidiano e uma trama muito bem urdida; actuações seguras que mantiveram a assistência num contínuo suspense até ao cair do pano.
2.  lições de vida: como ser tolerante, solidário, humilde, em contraste com o mundo actual que cultiva ganâncias e vaidades;
3. o amor, oh!, o amor, sempre presente, no mais pequeno gesto ou em cenas dramáticas, dignas de aparecer num palco de âmbito nacional.
4. o drama, a loucura (há mesmo uma personagem louca, vítima de violação), com destaque para  a forma de loucura com que lidamos no frenesim do quotidiano;
5. o humor: cenas cómicas, como aquela dos discursos de campanha para a eleição da Comissão de Sobrevivência, à mistura com a tragédia de quem luta no dia a dia pela libertação do cativeiro;
6. o realismo dalgumas cenas: em determinados momentos o público ficou de tal forma absorto que dava para ouvir o respirar do vizinho, como aconteceu, por exemplo, na cena do trágico auxílio ao suicídio, no grito de loucura até à morte perante a brutalidade da injustiça de incriminação dum inocente pela morte dalguém, etc.
7. um final extraordinário, coroado com uma chuva de aplausos e lágrimas à mistura!