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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O quarto vazio






















Tenho de encontrar um vocabulário

preciso para cada um dos aspectos deste

quarto; mas o que irá faltar é

a palavra que te irá substituir, ou

o movimento do teu corpo

a caminho da janela, para a abrir,

deixando entrar, com o sol, a sombra

das árvores para dentro de casa.



A cadeira está ali, inútil,

agora que partiste; mas deixo-a

estar, para o dia em que regresses,

como se o passado fosse o dia

de amanhã, ou a tarde mantivesse

a tua presença, trazendo de volta

o vento que servia de fundo

à música da tua voz.



E fecho as cortinas, para

que a escuridão se faça, e

o perfume das flores se

confunda com o teu.


Nuno Júdice
in blog A a Z
2AGO2006

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Massano, Paula


*Paula Massano (1949 – 2012) - Marginal, exigente e erudita – morreu a coreógrafa que inaugurou a História

**(…) alimentava o desejo de remontar uma das suas mais importantes peças Na Palma da Mão a Lâmpada de Guernica, que criou em 1981 com Elisa Worm.
“Quando o corpo se movimenta, as figuras que desenha, definem um espaço” - dizia Massano.
Essa relação com o espaço começou nos estudos de arquitectura em Lisboa, antes de partir para Nova Iorque, onde estudaria com Merce Cunningham, um dos mais importantes coreógrafos do século XX.
“ (…) A Paula exigia um grau de perfeição em tudo” – diz Nuno Carinhas (director do Teatro Nacional de S. João), lembrando que o fez descobrir autores como Celan.

"Abria campos de leitura para o espectador" - diz Maria José Fazenda, professora na Escola Superior de Dança e uma das bailarinas de Estranhezas (1990). "A sua dança reflectia essa complexidade e erudição" e fica como hipótese de compreensão da margem onde Massano sempre viveu.

"A independência artística dá-me uma enorme liberdade de movimentos e posso usufruir de um ritmo pessoal muito produtivo", disse, na primeira pessoa, ao Diário de Lisboa, em 1990.

* Título do artigo de Tiago Bartolomeu Costa, publicado no PÚBLICO, 28 de Março de 2012 - dia da cerimónia fúnebre.
** Excertos do artigo.

NB: esta mensagem assinala o facto de, pela primeira vez, na cidade, ter sido ministrado,  no ano lectivo transacto, o ensino oficial da Dança (ensino articulado).
E serve para formular votos para que a disciplina continue a merecer a confiança dos responsáveis, no sentido da sua plena integração no programa de ensino.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Para além do muro





Olhas para além do muro; e

o que vês? O tempo para além do tempo,

a tarde que não chega, ou a noite que

vai chegar quando menos a esperas,

uma última ave no limite

do céu, pedindo-te que a não sigas.

Mas não cedas ao abraço da árvore,

ao apelo das raízes, à melancolia

de um desejo de horizonte. Encosta-te

a esse muro, sabendo que ele desenha

o espaço que te foi dado, e que as tuas

mãos descobrem no frio da pedra.

Não te resignes ao que existe. A ave

que desapareceu por trás da colina conhece

o caminho que os teus olhos procuram.
N U N O  J Ú D I C E

blog "A a Z",
há cinco anos,
precisamente!

sábado, 28 de janeiro de 2012

O caderno de duas linhas

16 de Dezembro de 2011:

Cerimónia do 38º aniversário da universidade de Aveiro. A instituição distinguiu, com o doutoramento honoris causa, Alcino Soutinho, Álvaro Sisa Vieira e Eduardo Souto de Moura, autores de três edifícios – Biblioteca e Depósito de Água, departamento de Geociências, departamento de Química e de Engenharia e do Vidro -, autêntico museu a céu aberto. Universidade e arquitectura no bom caminho!

*
24 de Janeiro de 2012

Duas linhas:

1. Paula Rego está em Paris. Inaugurará, na próxima quinta-feira, a sua primeira exposição em França. Será a Fundação Calouste Gulbenkian a albergar trinta obras. A pintora lamenta não haver mais dinheiro para manter a Casa das Histórias, em Cascais, “como deve ser”.
=
2. Vasco Graça Moura substituiu, ontem, António Mega Ferreira (AMF), no lugar de Presidente do Conselho de administração da Fundação do CCB. O encontro estava previsto para as 10h00, mas AMF chegou antes da hora marcada e esperou pelo seu sucessor no hall de entrada. Sucessão com bastidores polémicos. O primeiro encontro entre os dois escritores aconteceu sem grandes euforias, mas também sem tensão” – relata a jornalista Cláudia Carvalho no Público.
Relembro que, uma bela manhã, na rádio, AMF, na qualidade de responsável máximo pelo CCB, disse que – cito de cor – “a Festa da Música (La Folle Journée) não poderia estender-se a Viseu, por questões económicas (… ) há serviço público que o Estado deve prestar, mas que não cabe nas funções do CCB”.
Na ocasião fiquei triste porque vivia a doce ilusão de que a Festa da Música se poderia repetir na provinciana cidade. Mais desolado fiquei, quando, mais tarde, se acabou mesmo com o evento no nosso país. E imaginem como não fiquei quando, mais tarde ainda, a colecção Berardo se instalou ali com custos tremendos …