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sábado, 28 de novembro de 2020

Peter Handke

 

 A jornalista conduz o escritor[i]:

Há um momento em que o narrador [no romance A Ladra da Fruta] diz: “E agora não era eu que decidia era a história”. É o momento em que passa a ser a história a criar-se a si mesma.

É verdade e esse é o momento mais bonito e também um dos mais dolorosos, o momento em que a imaginação começa a criar. Não é mais um documentário e passa a ser uma narrativa ficcional. Quando essa transformação se dá no romance é maravilhoso.

Qual é a sensação?

É uma coisa muito profunda, a criação de imagens além do documento puro, além dos factos. São precisos factos também, mas o sentimento é tão forte que os factos se transformam em ficção. Isso é literatura.



[i] Peter Handke, prémio Nobel da literatura 2019, em entrevista concedida ao ípsilon, sexta-feira 27Nov2020.

Na introdução à entrevista, Isabel Lucas  referiu que os críticos de Handke consideraram um ultraje a atribuição do Nobel a alguém que criticou a intervenção da Nato na Guerra do Kosovo, que terá duvidado do massacre de Srebrenica em 1995, que apoiou o então dirigente sérvio Slobodan Milosevic na guerra civil da Jugoslávia. Milosevic seria acusado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade, mas morreu em 2006, antes de ser julgado. Handke discursou no seu funeral.